Ausência
Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar teus olhos que são doces.
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida.
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados.
Para que eu possa levar uma gota do orvalho nesta terra amaldiçoada.
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encontrarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande intimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas,
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.
(Vinícius de Moraes)
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Hoje é um dia triste pra mim. Sei lá porque acordei assim.
Com uma melancolia na alma, uma saudade desumana.
Meu coração ficou pequenininho, apertado...
Chorei pela ausência... chorei de saudade, assim como me debulho em lágrimas todas as vezes que algo me leva até onde não quero ir... ou me faz lembrar coisas que preciso apagar.
Às vezes eu chego a ver, ouvir... sentir o cheiro vindo com o vento...
Mas a ausência sempre me chacoalha, grita comigo como uma mãe zangada.
Não quero sentir... mas ainda sinto... não quero lembrar... mas ainda lembro...
Não quero viver... mas ainda vivo.
Porque as coisas insistem em serem assim comigo?
De nada valeu destruir os vestígios, se aqui dentro (ainda) resta tudo isso...
(... choro...)
By Jana
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